quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Edições de Fachada



      Estimados leitores, o assunto que aqui me trás hoje prende-se com o processo de edição de um livro e com uma recomendação que quero deixar sobre o mesmo.

      Em Portugal escrevem-se cada vez mais obras, o que espelha a contínua evolução cultural que se tem vindo a registar no nosso país. Paralelamente têm crescido também o número de editoras, sendo que nesta altura também muitas delas atravessam sérias dificuldades. Para fazer face às mesmas, as editoras têm apostado mais em reedições do que em novas edições, pelos riscos óbvios que estas acarretam. Estamos por isso numa altura difícil para conseguir uma edição.

      A todos aqueles que têm o sonho de editar um livro deixo uma recomendação séria: essa é uma decisão importante que tem de ser meticulosamente preparada e ponderada. A finalização de uma obra

é sempre um marco na vida de alguém, especialmente se for a primeira e é importante não se deixar levar pela emoção e euforia. Todos sabemos que é necessário um grande esforço e dedicação para escrever uma obra mas por isso mesmo, não estrague tudo no final.

     O primeiro conselho que deixo é que reveja a obra ao pormenor e corrija todas as falhas. Isso é também um trabalho do editor, mas mandar um manuscrito cheio de gralhas e gaffes só dará má imagem de si e da obra, o que o/a deixará mais longe do seu objectivo - a publicação.

     Segundo conselho: todas as editoras hoje em dia pedem que o envio da obra seja feito por correio electrónico e que lhe junte uma biografia sua. Agora vamos falar de um dos passos mais importantes, o que dizer na biogradia? Aqui fica a minha opinião ponto por ponto:

  • De onde é e onde vive;
  • Onde estudou;
  • Os feitos que já alcançou na vida;
  • Os seus hobbies (desportivos, artísticos, etc.);
  • Os seus interesses PRINCIPAIS (não fale da noiva, da namorada etc.);
  • Uma ou duas coisas importantes que se encontra a fazer de momento ou que gostaria de fazer no futuro.
O que não deve dizer na biografia:

  • O sacrificio que fez para escrever a obra, nem tão pouco a importância que a sua publicação teria para as suas finanças: o editor/revisor não quer saber e fazer papel de coitado não o beneficia em nada; 
  • Não fale de aspectos muitos pessoais/íntimos ou específicos da sua vida;
  • Não seja exaustivo e caso seja bastante novo ( <25 anos) opte por não referir a idade.
     Terceiro conselho, escolha cuidadosamente a época do ano em que envia o livro, o Natal e o Verão são sempre más alturas e as hipóteses de que percam o manuscrito ou se esqueçam de si são elevadas.

     Para finalizar, vou apenas fazer um pequeno alterta em relação às editoras. Nunca, mas nunca aceite suportar os custos da edição porque podemos retirar duas conclusões negativas dessa proposta:  
  • primeira: a editora não acredita em si pois se considerasse que o seu livro iria ter sucesso arcava com os custos; 
  • segunda: ao tirar o risco da editora com que garantias de empenho da mesma na venda do livro ficaria você? Afinal o que perderia a editora se não vendesse um único livro, uma vez que não fez qualquer investimento no mesmo e que, muito provavelmente, até já lucrou quando lhe cobrou pela impressão?
    Tenha por isso atenção e desconfiança a este tipo de propostas e a respostas demasiado céleres. Uma editora credível demorará meia dúzia de meses (pelo menos) até lhe responder, porque primeiro irá estudar a obra, comparar o seu potêncial com o de outras, reflectir sobre o eventual sucesso da mesma junto do público, etc. Uma resposta demasiado rápida pode significar que nem leram a obra (principalmente se for acompanhada do tipo de propostas que referi anteriormente), por isso não se deixe levar pela euforia e evite ser iludido.

2 comentários:

  1. Em Portugal viveu-se uma época em que houve escassez de informação, vecto ao ensino, sensura, etc,durante 40 anos aproximadamente. Tudo isto colocou-nos na cauda da Europa, principalmente a nível cultural e académico.
    Desde a famosa revolução o nível académico tem vindo a aumentar.
    Em relação à cultura tem havido uma estagnação ou mesmo algum retrocesso em diversas áreas. Vê-se frequentemente a bagunça que se verifica na comercialização de livros.
    Deixo aqui um sugestão para melhorar a situação de autores, revisores, editoras e leitores:
    As grandes superficies vendem livros ao lado do papel higiénico, detergentes, vinhos, etc.
    As editoras poderão vender vinhos, papel higiénico, detergentes, etc., ao lado dos livros.
    Bem analisada a questão, de facto os produtos de supermercado tambem têm uma componente literária, ou seja, toda a informação de rótulo e contra-rótulo, e, ao preço a que estão os livros, fico-me pela leitura dos rótulos do Skip, Sonasol e pomada para os calos.

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  2. Caro leitor, antes de mais agradeço-lhe que tenha expressado o seu ponto de vista. Concordo consigo em tudo o que disse excepto no que diz respeito à estagnação, pois o número de licenciados tem crescido consecutivamente e o país tem investido em investigação, com as universidades com um papel cada vez mais activo nesta área, apesar de os montantes continuarem a ser manifestamente insuficientes e de provavelmente até virem a ser diminuídos no futuro.

    De facto os livros são muito caros (e nem vamos falar dos técnicos) para aquilo que os portugueses ganham, mas para alguns infelizmente até as revistas o são. E não são só os filmes: são os bilhetes de teatro e outros espectáculos, os DVD's etc. Tudo está a ficar demasiado caro para os portugueses. Mas o problema não me parece estar no preço dos bens e sim nas quantias ridículas que o português comum aufere mensalmente.

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